Por: Adalberto Luque
A pedido da Polícia Civil e com aval da Justiça de Pontal, o Instituto Médico Legal (IML) promoveu na manhã desta sexta-feira, 23 de maio, a exumação do corpo de Nathalia Garnica, de 42 anos, irmã do médico Luiz Antônio Garnica, de 38, e filha de Elizabete Eugênio Arrabaça Garnica, de 67, presos desde 6 de maio suspeitos de assassinar a esposa do ortopedista, a professora de pilates Larissa Talle Leôncio Rodrigues, de 37 anos, com uma substância conhecida como “chumbinho”.
O corpo de Nathalia Garnica está no Cemitério de Pontal, no mesmo túmulo onde Larissa Rodrigues foi sepultada. O caso da professora de pilates é tratado como homicídio qualificado. Já a causa da morte da irmã de Luiz Antônio supostamente foi enfarte. Ela morreu em 9 de fevereiro em circunstâncias semelhantes às da cunhada. Ambas nunca tiveram problemas graves de saúde.

Exumação – O trabalho de exumação no corpo de Nathalia durou pouco mais de uma hora. Um rigoroso esquema de segurança foi montado, para garantir os trabalhos.
O médico-legista responsável pelo trabalho de exumação, Leonardo Monteiro Mendes, explicou que o corpo já apresentava sinais de decomposição. Além disso, teria sido submetido ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Apesar disso, foi possível coletar tecido dos órgãos. Estômago, fígado e bexiga foram os alvos dos peritos.

Para acompanhar o processo, havia um grande número de policiais civis e testemunhas. O diretor do IML de Ribeirão Preto, Diógenes Tadeu de Freitas Cardoso, informou que os peritos tiraram o material necessário para os exames. Caso esse material já esteja comprometido, por exemplo, com terra, será emitido um laudo informando que o exame foi prejudicado.
O material coletado segue para São Paulo, onde será avaliado no Laboratório de Toxicologia da Polícia Científica. Todo o material recolhido foi colocado no recipiente devido e lacrado, para evitar contaminação. As testemunhas presenciaram esse processo, legitimando o trabalho dos peritos.
A Delegacia de Homicídios de Ribeirão Preto, que investiga a morte de Larissa Rodrigues, requisitou a exumação do corpo de Nathalia Garnica para confirmar ou não se filha de Elizabete Arrabaça morreu ou não de envenenamento. Para garantir o trabalho dos peritos e técnicos do IML, o cemitério foi fechado e as ruas próximas, interditadas.
Não foi permitida a presença de público no procedimento. Todo o procedimento ocorreu no local. O material foi colhido na presença de policiais civis que investigam o caso, promotor Marcos Túlio Nicolino, advogados de defesa e testemunhas.
Contudo, o resultado que pode apontar a presença de chumbinho vai depender da integridade dos órgãos que tiveram coletados os materiais biológicos para exame. O laudo dos exames não tem data definida para ser concluído. Não há informações sobre o prazo para apresentação do resultado.

A morte até então considerada natural pode ser a chave para revelar um possível padrão de envenenamentos dentro da mesma família em Ribeirão Preto. O que parecia um enfarte agora levanta sérias dúvidas, segundo o delegado Fernando Bravo.
Nathalia Garnica, que foi candidata a prefeita de Pontal no ano passado, morreu um mês antes de Larissa Rodrigues. Ambas as mortes ocorreram em circunstâncias similares: súbitas, sem sinais prévios de doença e com a presença da mesma pessoa no local, Elizabete Arrabaça, segundo a Polícia Civil.
Ela é mãe de Luiz Antônio e Nathalia, sogra de Larissa Rodrigues e esposa de Luiz Garnica (PTB), que governou Pontal entre 2001 e 2008, e chegou a ser condenado por improbidade administrativa pela contratação irregular de professores em sua gestão.
O delegado Fernando Bravo, responsável pelo caso, afirmou após a exumação que a motivação para a exumação é o padrão repetido. “Pela semelhança com o caso Larissa, há indicativos e indícios que ela poderia ter sido assassinada também. Enquanto nós não recebermos o resultado da perícia, o toxicológico, vamos colher oitivas de testemunhas, vamos tentar colher outras provas para verificar e esclarecer o que aconteceu e qual foi o motivo da morte da Nathalia.”
Bravo também não descarta a possibilidade de requer mais 30 dias de prisão preventiva de mãe e filho. Isso vai depender da conclusão da perícia nos celulares e no andamento das investigações.
Advogados negam culpa – As investigações prosseguem. Paralelamente, o Ministério Público estuda a ampliação do inquérito para incluir possíveis crimes anteriores envolvendo a família. Se confirmadas as suspeitas, o caso pode se transformar em um dos mais perturbadores registros de envenenamento em série da história recente do estado de São Paulo.
Os advogados de defesa negam a culpa de seus clientes e ambos ingressaram com pedidos de habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), mas o desembargador Luís Augusto de Sampaio Arruda negou os recursos.
O defensor de Elizabete, Bruno Corrêa Ribeiro, acompanhou o trabalho de exumação. Ele disse que a idosa tem conhecimento e que ele esteve com ela. “Da mesma forma da Larissa, ela também nega participação, nega ter ministrado qualquer substância também no que diz respeito à filha Nathalia”, explicou.

cercados de grande aparato de segurança (Foto: Alfredo Risk/Tribuna Ribeirão)
Ribeiro espera o resultado do exame toxicológico que, segundo ele, deve sair entre 30 e 60 dias. Ele também acrescentou que, por conta dos problemas de saúde de Elizabete, vai pedir à Justiça de Ribeirão Preto e ao Supremo Tribunal Federal, para que sua cliente seja transferida de prisão temporária para domiciliar
A mulher disse aos defensores Bruno Corrêa Ribeiro e João Pedro Soares Damasceno que a análise não encontrará vestígios de envenenamento, porque não houve crime. Os advogados Heráclito Antônio Mossin e Júlio César de Oliveira Guimarães Mossin defendem Luiz Antônio Garnica.
A defesa de Elizabete Arrabaça disse que pediria a contraprova do exame toxicológico para constatar se realmente a morte de Larissa Rodrigues ocorreu por envenenamento causado por “chumbinho”. O objetivo é confirmar com certeza que o laudo divulgado no início do mês não seja um falso positivo. Se negativo, provaria a suposta inocência de Elizabete Arrabaça.
Perícia digital – Perícia realizada no celular de Larissa Rodrigues mostra que a professora de pilates usou o aparelho por volta das 23 horas de 21 de março, horário em que a sogra dela, Elizabete Arrabaça, estava no apartamento em que a vítima morava com o ortopedista Luiz Antônio Garnica.
A professora de pilates foi encontrada morta pelo marido na manhã de 22 de março. Exame toxicológico indicou que Larissa Rodrigues foi envenenada com aldicarbe, substância popularmente conhecida como “chumbinho”. A Polícia Civil investiga o caso como homicídio qualificado.

O promotor responsável pela acusação, Marcos Túlio Nicolino, diz que Larissa Rodrigues não teve condições de pedir socorro porque não conseguiu acessar o celular enquanto passava mal. Depois desse horário, não recebeu nem fez chamadas.
O síndico do edifício prestou depoimento na segunda-feira, 19 de maio, e trouxe nova informação à investigação. Segundo ele, a sogra da vítima esteve no apartamento do casal na noite de 21 de março, e a entrada foi registrada no livro de controle da portaria.
Apesar da ausência dos vídeos devido a uma falha no monitoramento, o caderno de controle da portaria registra a presença de Elizabete Arrabaça no apartamento 151 – residência de Larissa Rodrigues e do marido Luiz Antônio Garnica – entre 20h45 do dia 21 e 00h50 de 22 de março.
Essa informação é considerada central para a investigação, já que, segundo o próprio Luiz Antônio Garnia, a mãe dele foi a última pessoa a ver Larissa Rodrigues com vida. A investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) segue em andamento.
Depoimentos – Para o Ministério Público de São Paulo, o crime foi motivado por causa da partilha de bens após o pedido de divórcio feito pela professora de pilates. Elizabete Arrabaça, Fabiane Arrabaça, disse que a irmã não queria que a nora ficasse com parte o apartamento que dividia com Luiz Antônio Garnica.
O médico e o irmão têm 19 imóveis em três cidades da região metropolitana: três em Ribeirão Preto, sete em Sertãozinho e nove em Pontal. Sete desses foram incorporados ao patrimônio da família após o casamento do médico com Larissa Rodrigues. Eles eram casados em regime de comunhão parcial de bens.

Entenda o caso – A professora de pilates Larissa Talle Leôncio Rodrigues foi encontrada morta no apartamento em que morava com Luiz Antônio Garnica, no Jardim Botânico, Zona Sul de Ribeirão Preto, na manhã de 22 de março. O marido ortopedista foi quem encontrou o corpo caído no banheiro.
No primeiro boletim de ocorrência do caso, o médico disse ter chegado e encontrado a mulher desfalecida. Depois colocou-a na cama, acionou a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192), mas ela já estava morta e não reagiu aos estímulos.
O exame necroscópico foi inconclusivo em relação à causa da morte, mas exame toxicológico apontou que a professora foi envenenada por “chumbinho”. Depois de ouvir várias testemunhas, o delegado do caso, Fernando Bravo, pediu a prisão temporária do médico e de sua mãe, Elizabete Eugênio Arrabaça Garnica por considerar ambos suspeitos de envenenar a nora. Estão presos por 30 dias, até 5 de junho.