“Grandes Nomes da Educação” destaca legado de Clotilde Rossetti Ferreira

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Por Paulo Ricardo

O documentário Grandes Nomes da Educação, primeiro episódio da série exibido no Cineclube Cauim, traz à tona a trajetória revolucionária da professora Maria Clotilde Rossetti Ferreira, uma das principais referências em educação infantil no Brasil. Com uma carreira dedicada à pesquisa e à prática pedagógica, Clotilde foi essencial na redefinição dos métodos de atendimento a crianças pequenas, especialmente em creches.

O projeto documental foi exibido em evento que integra a série “Encontros com a Cidadania” parceria entre o Cineclube Cauim e o Tribuna Ribeirão e busca revelar as mentes por trás das técnicas educacionais que moldam o ensino no país, destacando a importância do trabalho coletivo e da interdisciplinaridade.

Tornando ciência acessível

Em entrevista exclusiva, Maga Silva e Lívia Rocha, diretores do documentário, explicaram que o projeto nasceu da necessidade de traduzir pesquisas acadêmicas complexas em uma linguagem acessível ao público geral. Produzido em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo-FEA-RP/USP (LEPES), um dos principais objetivos do filme é a democratização do conhecimento científico.

“A universidade produz conhecimento valioso, mas ele fica preso nos papers. Queríamos levar isso para as salas de aula e para a comunidade”, explica a diretora Lívia Rocha. Ela também destaca o crescimento do movimento documental em Ribeirão Preto, impulsionado por obras como: Esquecidos e produções sobre figuras locais, como Maurina, O Outono Que Não Acabou, sobre Madre Maurina.

“O filme humaniza a ciência. Quando conversamos com Clotilde Rossetti, ela sai somente dos artigos e vira uma pessoa real, com histórias que emocionam e ensinam”, salienta Maga, produtor audiovisual, reforçando o poder da linguagem cinematográfica.

Memórias da ditadura e descobertas pedagógicas

Durante o documentário, Clotilde relembrou os desafios enfrentados na ditadura militar, quando precisou deixar o país para proteger sua família. Essa experiência, segundo ela, transformou profundamente sua visão sobre educação e direitos sociais. Sua pesquisa pioneira foca na interação entre crianças e no papel do ambiente escolar, questionando modelos tradicionais que priorizavam apenas a relação adulto-criança. “Percebemos que bebês interagem mais entre si do que com os adultos, e isso mudou nossa abordagem”, ressalta.

Suas descobertas impactaram diretamente documentos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que hoje inclui o campo “O eu, o outro e o nós”, que destaca experiências relacionadas à construção da identidade e da subjetividade, as aprendizagens e conquistas de desenvolvimento relacionadas à ampliação das experiências de conhecimento de si mesmo e à construção de relações, que devem ser permeadas por interações positivas, apoiadas em vínculos profundos e estáveis com os professores e os colegas. O Campo também ressalta o desenvolvimento do sentimento de pertencimento a determinado grupo, o respeito e o valor atribuído às diferentes tradições culturais.

O apagamento dos educadores no debate nacional

Em entrevista ao Tribuna Ribeirão, o economista e professor da USP, Daniel Domingues dos Santos — um dos idealizadores da série — revelou a motivação por trás do projeto: o apagamento dos educadores nas reformas educacionais brasileiras. “O Brasil está reformando a educação numa velocidade muito grande, mas os professores estão participando muito pouco desse debate”, criticou.

A ideia da série, de acordo com o economista surge quando sua parceira, a pedagoga e pesquisadora Camila Martins, nota, em conversa com colegas educadores, a dificuldade de nomear referências contemporâneas na educação: “Percebi que faltam novas vozes no cenário atual”, explicou.

O episódio-piloto mistura biografia e análise crítica, com um formato inovador: a própria Clotilde escolheu os temas contemporâneos que desejava abordar. Para Daniel, incluir educadores no debate é urgente. “Reformas só chegam ao chão da escola se os professores aderirem, e isso exige legitimidade.”

Mesmo sem financiamento para a continuidade da série, a equipe busca parceiros e deixa um recado claro. “Educação é o pilar de qualquer civilização. Não podemos debatê-la sem a participação de quem a pratica.”

Um chamado à ação

Após a exibição do documentário, um debate com especialistas como a diretora Lívia Rocha, a Especialista em educação infantil Camila Martins e o pedagogo Murilo Guimarães reforçou a urgência de valorizar a educação infantil como etapa fundamental do desenvolvimento humano. Clotilde, emocionada, deixou uma mensagem aos novos pesquisadores. “Temos de aproveitar nossas qualidades, como a capacidade de trabalhar em grupo, mas com mais disciplina para transformar projetos em realidade.”

Para ela, é de extrema importância que a educação no Brasil seja discutida de forma interdisciplinar, com foco na formação integral dos alunos.

O documentário está disponível de forma gratuita no Canal do Youtube do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da FEA-RP/USP (LEPES) [Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2TvlEk0LQGk]

 

 

 



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