
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira, 6 de agosto, que terá uma reunião remota com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na próxima quarta-feira (13) para tratar da tarifa de 50% sobre parte das exportações do Brasil para os Estados Unidos. Haddad disse ainda que a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pode ser objeto da conversa.
O ministro afirmou que, a depender da qualidade da conversa com Bessent, pode haver uma reunião de trabalho presencial. “Aí será uma reunião com os ânimos já orientados no sentido de um entendimento entre os dois países, que têm um relacionamento de uns 200 anos, e que não faz o menor sentido nós estarmos vivendo nesse momento. A questão da política tem que ser tratada na esfera da política”, disse.
Haddad repetiu que a intenção do governo brasileiro é abrir um cenário de negociação e superar um desentendimento que, segundo o ministro, foi provocado pela extrema-direita do país. “Até a tarifa de 10% nós estávamos achando inadequado, porque a América do Sul é deficitária em relação aos Estados Unidos”, emendou.
Ele voltou também a expressar preocupação com a ação da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos Estados Unidos. “Hoje teve uma entrevista muito forte do Eduardo Bolsonaro ameaçando o Congresso Nacional e dizendo que o empresariado brasileiro do agro não está em contato com ele pedindo um arrefecimento das tensões entre os dois países, que seria o mais adequado.”
“O pessoal ligado a eles trabalhou junto conosco para distensionar as relações e tratar o que é a política na política e o que é a economia na economia. Essa mistura está atrapalhando, atrapalhando muito”, afirmou.
Nesta semana, Fernando Haddad disse que as terras raras e minerais críticos podem ser objeto de negociação entre Brasil e Estados Unidos. Esses minérios são essenciais para a indústria de tecnologia, e é um dos principais motivos de disputa entre Pequim e Washington.
“Temos minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais. Podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes”, disse Haddad em entrevista a uma rede de televisão.
Ainda segundo o ministro da Fazenda, o setor cafeeiro acredita que pode ser beneficiado por um acordo com os EUA para excluir o produto da lista de mercadorias tarifadas. No mesmo dia que Trump assinou o tarifaço, a China habilitou 183 empresas brasileiras para exportar café para o país asiático.
O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, disse nesta quarta-feira, 6, que estão sendo mapeados os entes federativos, nos Estados Unidos, mais dependentes de produtos brasileiros com o objetivo de articulação em nível local. A perspectiva é que governos estaduais, se sensibilizados, poderiam contribuir nas conversas com Washington. A ideia é tratar com governadores e parlamentares por meio de entidades em território norte-americano.
Também estão sendo mapeados os estados mais dependentes em relação aos minerais críticos exportados pelo Brasil. É o caso da Flórida, com cerca de 83% de dependência em determinados minerais, e Pensilvânia, com 100% de dependência de outros itens neste mercado, segundo balanço apresentado preliminarmente. O mapeamento geral ainda não está concluído.
Lula – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que vai conversar com os representantes dos países que integram o Brics sobre a taxação dos Estados Unidos aos produtos desses países. Em entrevista à agência de notícias Reuters, ele informou que pretende ligar para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e para o presidente da China, Xi Jinping.
“Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão”, disse Lula, lembrando que o Brics tem dez países no G20, o grupo que reúne 20 das maiores economias do mundo.
Segundo Lula, a prioridade do governo brasileiro, nesse momento, é ajudar as empresas brasileiras a encontrar novos mercados para seus produtos e cuidar da manutenção dos empregos. O texto da medida provisória (MP) com as ações planejadas pelo governo em resposta ao tarifaço seria enviado ao Palácio do Planalto pelo Ministério da Fazenda ainda ontem.
Lula ressaltou que não vê abertura para negociação com Trump neste momento. “Eu não liguei porque ele não quer telefonema. Não tenho por que ligar para o presidente Trump, porque nas cartas que ele mandou e nas suas decisões ele não fala em nenhum momento em negociação, o que ele fala é em novas ameaças”, disse Lula.
O presidente lembrou que o Brasil recebeu o comunicado da taxação de forma totalmente autoritária. “Não é assim que estamos acostumados a negociar”, afirmou. O presidente Lula afirmou que não é admissível que o presidente americano resolva “dar pitaco” no Brasil.