
Constatação está no levantamento Panorama da Primeira Infância: o que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida
Apesar de castigos físicos como palmadas, beliscões e apertos serem proibidos por lei, 29% das pessoas cuidadoras de crianças de até 6 anos admitem utilizar esses métodos como estratégia de disciplina. Treze por cento reconhecem que fazem isso sempre.
A constatação está no levantamento Panorama da Primeira Infância: o que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida, lançado esta semana pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. A organização da sociedade civil, com sede em São Paulo, atua pela causa da primeira infância com o objetivo de impactar positivamente o desenvolvimento de crianças de até 6 anos.
A pesquisa foi realizada em parceria com o Instituto Datafolha e entrevistou 2.206 pessoas em todo o país, sendo 822 cuidadores de crianças nessa faixa etária. O estudo mostrou que 17% dos cuidadores consideram esses atos uma forma eficaz de disciplina. Ou seja, 12% agridem mesmo sabendo que essa não é uma forma eficiente de educar.
Apesar dessas respostas associadas a comportamento repressivo, os métodos disciplinares mais citados foram: conversar e explicar o erro (96% dos entrevistados) e acalmar a criança e retirá-la do lugar ou situação (93%).
Entre as pessoas que admitem comportamentos agressivos contra crianças, a maior parte (40%) acredita que uma consequência é “maior respeito pela autoridade e ensinar a criança a obedecer”.
Um terço de quem bate em crianças (33%) reconhece que um dos impactos é o comportamento agressivo, e um em cada cinco (21%) admite que a criança desenvolve baixa autoestima e falta de confiança.
No Brasil, há mais de dez anos, a Lei Menino Bernardo, também conhecida como Lei da Palmada (Lei nº 13.010/2014), proíbe esses tipos de castigos físicos aplicados a crianças e adolescentes, com os autores das agressões podendo ser advertidos e encaminhados para cursos e programas de orientação.
A lei recebeu esse nome como forma de lembrar a morte de Bernardo Boldrini, de 11 anos, vítima de agressões e morto pela madrasta e pelo pai na cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul, em abril de 2014.
A diretora-executiva da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Mariana Luz, lamenta o percentual identificado pelo levantamento e considera que há repetição de um padrão cultural que não funciona como disciplinador.
“Um cachorro você não agride em praça pública, porque alguém vai pegar o telefone e vai denunciar. Uma criança, não. Uma criança recebe um tapa, um berro, um beliscão dentro de um equipamento público e ninguém fala nada”, diz.