
*Por Fabiana Fabiana Guerrelhas – Terapeuta Analítico Comportamental
No último domingo, ao caminhar no parque, prestei atenção nas crianças. Riam alto, jogavam bola, iam e vinham no balanço e faziam comidinhas com água, terra e grama. Uma menina de tranças esticava o corpo todo para alcançar, com um graveto, um ninho de rolinhas desocupado. Senti saudades das minhas filhas e meu peito se encheu de memórias.
Sempre quis ser mãe e tive a sorte de parir duas vezes. Hoje entendo que o desejo, cultivado desde o tempo das bonecas, era alimentado por fantasias que foram desmoronando com o tempo — como o castelo de areia que o menino com cabelos cacheados acabara de destruir. Adoro criança, cheiro de sabonete Johnson’s, sopa de letrinhas e até apresentação escolar, mas filho cresce rápido e eu tive muita dificuldade em me despedir da infância das meninas.
Enquanto elas eram crianças, a maternidade sempre esteve no topo da lista das minhas prioridades. Aí veio a adolescência e eu não lidei muito bem com essa fase. Na mesma época em que elas estavam desabrochando pra vida e começando a ser protagonistas do seu mundo, causei alguns tumultos.
Dei pra curtir baladas até o amanhecer, passar do ponto na bebida, entre outras inconsequências impublicáveis. Demorei para perceber que a jovenzinha não era eu e que precisava colocar o meu burro na sombra e assumir o papel de adulto protetor que me cabia — assim como o pai do garoto de olhos de bolas de gude, que vigiava atento o menino ir até o ponto mais alto da árvore.
No final (da adolescência das minhas filhas) deu (quase) tudo certo, elas se tornaram mulheres saudáveis, moram em suas próprias casas e sabem usar uma panela de pressão. Gostam de viajar, de livros e cinema, escutam samba e MPB. Sei que ouvem uns funks horríveis, mas mesmo assim, acredito que a tarefa de criar cidadãs do bem foi concluída com sucesso.
No parque, a garotinha de pernas magras, vestido curto e botas cintilantes caiu do trepa-trepa, ralou os joelhos e correu para o colo da mãe. Ganhou um beijo e a promessa: “vai sarar”. Eu teria feito o mesmo e espero que minhas meninas saibam que poderão voltar pro meu colo. A mãe, pessoa adulta que é, protege a cria de cima pra baixo, mas quando o filho cresce, a relação vai ficando cada vez mais horizontalizada. Me vejo assim, hoje em dia, saindo da mesa de controle para que elas próprias assumam essa posição.
Esse ano minha caçula foi fazer faculdade em outra cidade, outro estado, outra galáxia, e não está sendo fácil lidar com o ninho completamente vazio. A casa ficou silenciosa, a rotina mudou completamente. Quando acordo, não sei qual é o dia da semana, comecei a perder a hora da ginástica. Tenho preguiça de cozinhar pra dois e de ir à feira comprar verduras. Sobra comida, tempo e choro, o casamento anda precisando de reciclagem. E o pai também sofre, pois sentir pelo ninho vazio não é privilégio das mães.
Outro dia, no programa “Papo de Segunda” do GNT, o ator Vladmir Brichta chorou ao contar que a saída do filho mais novo de casa está difícil. Disse que ao perder as funções cotidianas da paternidade parte da sua identidade está abalada. Entendo muito.
Segui a caminhada até o sol começar a esquentar e as crianças serem recolhidas. Fiquei com “Abri a porta” do Gil e do Dominguinhos na cabeça e, “naquele instante me convenci que o bom da vida vai prosseguir”.
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