
A médica Mônica Freire Stecchini, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo), recebeu o prêmio Hormone Research in Paediatrics Award 2025, no Panamá.
A homenagem, concedida em agosto, é considerada o principal reconhecimento científico da Sociedade Latino-Americana de Endocrinologia Pediátrica.
O trabalho premiado, intitulado Avaliação do papel dos genes ATRX e DAXX na patogênese e no prognóstico de tumores adrenocorticais pediátricos, foi executado durante o doutorado de Mônica, orientada pelo professor Sonir Roberto Rauber Antonini do Departamento de Puericultura e Pediatria.
“Receber um reconhecimento tão significativo, em meio a tantos pesquisadores latino-americanos, é uma honra. Compartilho esse prêmio com todos que colaboraram com esse estudo e tanto me ensinaram durante o período do meu doutorado”, afirma Mônica.
A doença e sua ocorrência no Brasil
O tumor do córtex adrenal é uma forma rara de câncer infantil, mas com incidência mais elevada no Brasil, especialmente nas regiões Sudeste e Sul. Segundo Mônica, isso se deve à herança de uma alteração genética específica em um gene chamado TP53, que atua como um supressor de tumores.
Essa mutação aumenta a predisposição à doença, embora, sozinha, não seja suficiente para o surgimento do câncer. Na infância, esses tumores costumam se manifestar com excesso de hormônios produzidos pelas glândulas adrenais.
O quadro mais frequente é o de excesso de andrógenos — hormônios relacionados às características masculinas —, que pode levar ao surgimento precoce de pelos, acne, voz grossa e crescimento acelerado em meninas antes dos oito anos e meninos antes dos nove.
Outro quadro comum é o de excesso de glicocorticoides, resultando na síndrome de Cushing, que provoca ganho de peso, pressão alta e crescimento mais lento.
O foco da pesquisa
O estudo conduzido por Mônica avaliou um grande conjunto de amostras de tumores pediátricos já armazenados. O objetivo foi compreender melhor os mecanismos genéticos e celulares envolvidos no desenvolvimento da doença.
Um dos pontos centrais foi a análise dos fatores de remodelação da cromatina ATRX e DAXX, bem como do comprimento dos telômeros — estruturas que protegem o DNA das células e que, a cada divisão celular, ficam menores até que a célula pare de se multiplicar.
“No câncer, no entanto, as células precisam se manter ‘imortais’ e continuar se dividindo. Nesse contexto, a manutenção dos telômeros é um mecanismo importante para permitir o surgimento e a evolução dos tumores”, explicou a pesquisadora.
Alterações em genes e proteínas que preservam os telômeros podem, assim, estar ligadas à agressividade da doença.
O professor Antonini, que lidera há mais de 15 anos uma linha de pesquisa sobre tumores adrenocorticais, destaca que a investigação atual se apoia em um banco de dados construído ao longo de décadas na FMRP.
“Temos um dos maiores conjuntos de informações clínicas e laboratoriais de pacientes pediátricos com esse tumor no mundo. Esse trabalho é resultado de uma continuidade de pesquisa que busca entender a fundo o comportamento dessa doença”, afirma o professor.
Segundo ele, o grupo já mostrou em estudos anteriores que diferentes mecanismos do corpo, quando alterados, podem influenciar no surgimento e crescimento dos tumores.
“Essas descobertas ajudam a abrir caminho para que, no futuro, novas terapias sejam desenvolvidas de forma mais direcionada”, explica Antonini.
Ele acrescenta que a equipe também conseguiu identificar um padrão presente no DNA dos tumores, capaz de indicar se a doença tende a ser mais agressiva ou não.
“Esse tipo de informação pode ajudar médicos a prever o comportamento da doença e pensar em tratamentos mais adequados para cada paciente”, completa o professor.
Próximos passos
De acordo com Mônica, os próximos estudos pretendem avaliar essas alterações genéticas e celulares de forma prospectiva, ou seja, em pacientes logo após a cirurgia, durante o acompanhamento clínico. A expectativa é que os resultados permitam classificar os tumores com maior precisão e, futuramente, orientar propostas de tratamentos mais direcionados.
“Sou muito grata pela oportunidade de trabalhar com o professor Sonir e com sua equipe, em especial a doutora Ana Carolina Bueno, na busca por compreender melhor os tumores do córtex adrenal na faixa etária pediátrica, com o intuito de tentar auxiliar, ainda mais, as crianças afetadas”, conclui Mônica.
(com informações Eduardo Nazaré/USP).
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