Por: Alfredo Risk e Adalberto Luque

O fazendeiro Alípio João Júnior, de 58 anos, foi preso no início da tarde desta quarta-feira (16). Ele foi detido pouco tempo depois em que o juiz Nemércio Rodrigues Marques, da Vara Regional das Garantias da 6ª Regão Administrativa, assinou o mandado de prisão.

Alípio foi denunciado por moradores do condomínio onde reside, um prédio de 48 apartamentos na rua Garibaldi, região central de Ribeirão Preto. O fazendeiro também vem sendo chamado nas redes sociais como “furioso da cancela”. No dia 17 de junho ele saia do Novo Shopping com sua caminhonete e parou na cancela.

Ao perceber que havia perdido o cupom de estacionamento, se irritou com um funcionário e, após discussão, apanhou em sua caminhonete uma arma de airsoft e disparou. O funcionário foi ferido e precisou ser levado para um hospital, mas se recuperou.

Alípio foi preso em flagrante, mas sua defesa liberdade provisória em 25 de junho. Desde então, ele tem sido denunciado por ameaças e até por tentar invadir um apartamento, no edifício onde reside.

Num dos boletins de ocorrência, o síndico do prédio, Ed Carlos Delarisce, registrou as ameaças explícitas, através de inúmeros áudios enviados. Num deles, afirmava que iria matar o síndico e sua filha e faria picadinho dela.

Mais denúncias

Desde então, vários moradores registraram boletins de ocorrência contra Alípio. Na manhã desta quarta-feira, o advogado Hamilton Paulino, que representa os moradores do condomínio onde Alípio mora organizou uma entrevista coletiva.

O advogado se queixou da demora na expedição do mandado de prisão de Alípio. Disse que foi preciso fazer vários pedidos ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), até ser atendido. A Justiça teria atendido parcialmente os pedidos.

Além do advogado, o síndico e outro morador relataram os momentos de terror que têm vivido no prédio onde residem. O síndico Delarisce relatou sua angústia.

“Indignação. Tanto dos moradores do nosso prédio, quanto minha e da minha família e, acredito, da população de Ribeirão Preto. Você ser ameaçado, ter provas, ter mandado para o Ministério Público, conviver com uma pessoa desequilibrada desta forma, te ameaçando dia e noite, à sua família, [ameaçar] picotar sua filha. Não tem como. Nós não estamos trabalhando. Nós não estamos comendo. Não estamos dormindo. É só terror”, desabafou.

No momento da coletiva, o mandado de prisão ainda não havia sido expedido pela Justiça e Delarisce revelou que Alípio estava no prédio despreocupadamente. E acrescentou que gostaria de convidar o juiz que disse ser Alípio uma pessoa normal “que o leve para morar com ele, para ver sua família ser ameaçada dia e noite.”

Também informou que o prédio, com 48 apartamentos, tem muitos idosos e se sentem ameaçados pelo fazendeiro. Além das ameaças, existem ofensas e Delarisce revelou que 47 apartamentos já pensam em deixar o condomínio.

Tentativa de invasão

Outro morador que relatou o terror vivido foi Editon Volpi, que mora no apartamento acima do fazendeiro. O homem já teria ameaçado os dois filhos e a esposa, ocasionando que todos passem por tratamento psicológico.

Volpi contou que, na sexta-feira (11), sua porta quase foi derrubada pelo “furioso da cancela”. Ele registrou um B.O. por tentativa de invasão. Relatou que, no momento da tentativa de invasão, estavam apenas a esposa e o filho mais novo, que teriam ficado desesperados. “É desesperador o que nós estamos vivendo”, acrescentou Volpi.

Namoro explosivo

Os moradores revelaram que Alípio já namorou uma mulher que tinha um temperamento igualmente explosivo. Trata-se da agrônoma Ana Paula Junqueira, que no dia 16 de março de 2024 teria sido presa após bater seu carro contra outro onde estava um bebê, agredir um homem e, na loja de conveniência ofender verbalmente a funcionária da loja de conveniência do posto de combustíveis onde tudo ocorreu, no Jardim Paulista.

Ana Paula também teria ofendido os policiais e tentado suborná-los, oferecendo R$ 50 mil. Acabou presa e foi condenada a pagar indenização para a funcionária que humilhou.

A agrônoma e o fazendeiro namoraram há alguns anos. Segundo os moradores do condomínio, após Alípio romper com Ana Paula, ela teria entrado algumas vezes no prédio, aproveitando-se da saída ou entrada de carros pela garagem do prédio e danificado o carro de Alípio. Isso teria motivado o início dos desentendimentos com os moradores, que, segundo o síndico, se agravou ao longo dos últimos anos.

Histórico e prisão

Alípio tem várias denúncias de ameaças e até de homicídio culposo. Em 2016 ele estava levando um lavrador na carroceria de sua caminhonete quando, de acordo com o Boletim de Ocorrência registrado em Minas Gerais, na cidade de Monte Santo de Minas, alegou ter perdido o controle, batido em um barranco e capotado. O acidente vitimou o homem de 48 anos.

O síndico ameaçado pelo fazendeiro disse que o pai deixou 78 apartamentos e seis fazendas. Há registros de que ele teria sido afastado do inventário dos bens deixados pelo pai por ter deixado de cuidar do espólio, inclusive há acusação de que ele tenha causado a morte de dezenas de cabeças de gado por maus-tratos e abandono.

Alípio foi preso no início da tarde quando transitava em sua caminhonete pela avenida Francisco Junqueira, próximo ao cruzamento da rua Garibaldi, onde mora. O juiz assinou o mandado de prisão pouco antes das 11h00 e ele foi preso pouco depois. Levado para a Central de Polícia Judiciária (CPJ), seria notificado do mandado de prisão. Depois passaria por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e seguiria para uma unidade prisional.

Defesa quer internação

O advogado Júlio Mossin se apresentou como responsável pela defesa de Alípio. De acordo com o advogado, seu cliente foi até um hospital onde teria sido diagnosticado com crise de pânico, depressão, taquicardia e ansiedade aguda.

“Vou tomar conhecimento desses novos fatos, que estão em segredo de justiça e a motivação, mas posso adiantar para vocês, até mesmo daquilo que tomei conhecimento pela própria imprensa, é que nós vamos pedir medida cautelar para ele, de internação compulsória”, concluiu Mossin.

 

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