Proteína de leite sem vaca? Tecnologia começou a ser desenvolvida em Ribeirão Preto

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Uma startup brasileira, que começou a operar no Supera Parque, em Ribeirão Preto, vai produzir proteínas do leite sem a necessidade de vacas. A Future Cow vai apresentar sua tecnologia no estande da USP (Universidade de São Paulo) na VivaTech, um dos maiores eventos de startups e de tecnologia da Europa.

O evento acontece entre 11 e 14 de junho em Paris, na França. A startup foi convidada pela Fapesp e tem o apoio da Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas). “A tecnologia já existe em outros países e vamos poder mostrar na VivaTech que o Brasil também tem”, diz Leonardo Vieira, cofundador e CEO da empresa.

“Podemos conquistar investidores que percebam que podemos fabricar no Brasil e exportar para outras localidades. Essa exposição no exterior não é comum para empresas brasileiras.”

Proteínas alternativas

À Agência Fapesp, Leonardo Vieira afirma que, na VivaTech, o objetivo da Future Cow é se conectar ao ecossistema de inovação, dar visibilidade ao desenvolvimento da tecnologia no Brasil e atrair potenciais parceiros corporativos.

“Queremos demonstrar que estamos desenvolvendo proteínas alternativas e, com isso, atrair multinacionais do setor de laticínios para serem nossos clientes”, disse.

A startup quer transformar o mercado de laticínios com a fermentação de precisão, que alia alta tecnologia, sustentabilidade e eficiência produtiva. “Nossa missão é fazer leite sem vaca”, resume Vieira. “A fermentação de precisão é uma tecnologia semelhante à utilizada na produção de cerveja ou vinho.”

Como funciona?

O empreendedor explica que a tecnologia consiste em identificar no DNA do animal a sequência genética com as instruções para produzir a proteína do leite, copiá-la e codificá-la em um hospedeiro – que pode ser um fungo, uma levedura ou uma bactéria. Depois, o hospedeiro se multiplica em um tanque de fermentação, com nutrição de uma fonte de caloria.

O resultado é um líquido que, após filtrado e seco, se transforma nas proteínas do leite programadas inicialmente. “Essas proteínas servem como ingredientes para a indústria de alimentos e laticínios, que podem recombinar o produto para criar diversos derivados”, explica.

A foodtech vai utilizar leveduras como hospedeiros para produzir, inicialmente, caseína e whey protein, duas das principais proteínas encontradas no leite. A caseína é amplamente utilizada na produção de queijos e iogurtes, enquanto o whey é rico em proteínas e muito valorizado no mercado de suplementos alimentares.

Existem, ainda, outras proteínas no leite, cada uma com aplicações específicas. “Uma delas é a lactoferrina, que é extremamente difícil de ser produzida por métodos tradicionais”, conta Vieira. “São necessários 10 mil litros de leite para obter apenas um quilo desse ingrediente.”

Do laboratório para o mercado

Após ter sido instalada no Supera Parque, em 2023, a Future Cow produziu os primeiros gramas de proteína do leite a partir da fermentação de precisão. Em seguida, foi selecionada para participar do Pace (Programa de Aceleração de DeepTechs) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais.

A startup não pretende substituir completamente o leite animal: em vez disso, quer criar soluções complementares para a indústria. “Quando a fermentação de precisão começou, era tudo muito preto ou branco: ou o produto é animal ou não é animal. Agora vemos modelos mais híbridos”, observa.

Segundo Vieira, executivos de grandes indústrias de laticínios relatam que já compram todo o leite disponível no mercado. “Eles não conseguem aumentar a produção em 20% ou 30% apenas com a matéria-prima tradicional”, pontua.

“Se eles puderem misturar nosso ingrediente com o produto animal para criar um produto híbrido e aumentar a escala, será um ganho significativo”, avalia.

Além disso, outro aspecto relevante é a agenda de descarbonização de grandes empresas. “Mesmo que a fermentação de precisão não substitua completamente o leite animal, uma redução de 10% ou 20% na pegada de carbono de grandes corporações do setor alimentício já representaria um impacto ambiental considerável.”

Perspectivas futuras

A Future Cow já tem uma cepa funcional e agora busca aumentar o rendimento da produção. “Quanto mais a cepa produz, mais cai o preço unitário. Então, otimizamos os processos de fermentação”. A expectativa é que, até o fim de 2026, o produto esteja pronto e disponível para comercialização.

Como se trata de um ingrediente, a empresa não vai vender diretamente para o consumidor final, mas atuar como fornecedora da indústria alimentícia. A abordagem da startup pode facilitar sua entrada no mercado. “Nosso produto, como ingrediente, pode ser incorporado a outros já existentes, sem enfrentar uma barreira de entrada alta”.

Inicialmente, a startup vai comercializar as proteínas já desenvolvidas para depois expandir para outras variedades. “Só depois da primeira comercialização vamos desenvolver outras proteínas”, afirma o empreendedor.

*com informações Roseli Andrion/Agência Fapesp 



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